Adelson Carvalho
Êta. A rotina de trabalho do professor de história Alexandro Bittencourt no Colégio Municipal Doutor Luiz Viana Filho, na Cidade de Pedrão, mudou há três semanas. Ele chegou a chorar e não teve condições de voltar à sala de aula quando foi abordado por um aluno na frente do colégio, momento em que todos já se dirigiam para as aulas. “Tá chegando o viado!”, gritou e repetiu com ênfase o aluno na frente de funcionários e outros estudantes. Esta foi uma das agressões que o professor, homossexual assumido, sofreu dentro da escola e denunciou ao nesta quarta-feira, dia 8. Em outra situação, outro aluno que já havia sido expulso do colégio e voltou a pedido da Secretaria Municipal de Educação escreveu a palavra “viado” em uma prova de história aplicada pelo educador, no lugar da lacuna onde devia ser escrito o nome do discente. A ofensa chegou a ser vista pela coordenadora pedagógica do colégio. O fato de o aluno ter recebido três dias de suspensão pelo impasse não foi o suficiente para Alexandro. “É angustiante ter que conviver com uma pessoa que fez isso. A escola está sendo negligente. O mínimo que se podia fazer era tomar uma atitude maior, como promover uma palestra sobre conscientização. Vai chegar a um ponto de que nenhum professor vai querer ficar na escola”, declarou o professor ao Bahia Notícias, ao fazer referência a outros educadores também agredidos ou ameaçados pelo mesmo estudante, mas por motivos diferentes. Quando questionado o que ele sente em relação às ofensas, o professor só consegue pensar em “humilhação”. “Fiquei péssimo em casa ao parar para analisar o que aconteceu. Não abro a minha vida pessoal para professor e funcionário”, disse o professor. Para ele, a situação está no limite do “insustentável”. Procurada, a direção da escola não quis se pronunciar sobre o assunto. Para Marcelo Cerqueira, presidente do Grupo Gay da Bahia, a atitude do aluno é “grave”. “Primeiro ponto: o professor deve assumir essa discussão. Esse aluno acha normal fazer esse tipo de brincadeira, que é um questionamento da autoridade do professor que deve ser respeitado e não deve ter as autoridade questionada independente de sua orientação sexual”, apontou. Cerqueira acredita que a escola deve realizar seminários e outras atividades pedagógicas para abordar o assunto entre todos os alunos da instituição de ensino. “A escola deve fazer seminários, debates sobre orientação sexual, até porque deve ter alunos trans, lésbicas e homosseuxais”, cita ele, que é graduado em História pela Universidade Católica de Salvador (Ucsal) e já lecionou para uma turma de 8ª série (9º ano). “Sempre fui viado assumido em sala de aula. E nunca fui chamado de viado, até porque nunca me permiti passar por esse tipo de situação”, conta, que brinca: “Eu faria ele escrever 90 mil vezes “devo respeitar meu professor”, gastar 200 cadernos”. Além da atuação no interior da escola, Cerqueira acredita que o comportamento do estudante pode refletir o ambiente familiar e que os pais dos alunos devem ser convocados para comparecer ao colégio. “É preciso chamar a família para discutir o assunto, ele deve ter pouca educação familiar. Hoje a família não almoça mais junto, não toma café junto, esse contato entre pais e filhos, essas relações se tornaram inconstantes, então não dá para acompanhar a vida do filho”, opina.
Foto: Reprodução/Pedrão Bahia
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