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Nenê Constantino, fundador da Gol, está preso

O empresário Nenê Constantino, sócio-fundador e um dos proprietários da Gol Linhas Aéreas, foi preso na noite dessa quarta-feira, acusado de ser o mandante da tentativa de homicídio de um dos seus ex-genros, o empresário Eduardo Alves Queiroz, em 2008. Nenê estava no Tribunal do Júri de Taguatinga, participando de uma audiência do processo que apura o assassinato de Márcio Nonato Sousa Brito, ocorrido em 2001 — do qual o dono da Gol é também apontado como mandante —, quando chegou o mandado de prisão expedido pelo juiz Fábio Martins.

O empresário foi levado para exames de corpo delito no Instituto de Medicina Legal (IML) e passaria a noite na carceragem do Departamento de Polícia Especializada (DPE). De acordo com o diretor da Polícia Civil, Pedro Cardoso, a Justiça decretou a prisão preventiva do acusado — nesse caso, ele pode ficar preso durante toda a instrução do processo. Na decisão, o juiz Fábio Martins recomendou que Nenê Constantino não fosse algemado. Ele também ressaltou que a autoridade policial tomasse cuidados com a idade do acusado e “suas fragilidades naturais” — o empresário tem 79 anos. O magistrado colocou o serviço médico do Tribunal de Justiça do DF à disposição do preso.

A investigação da tentativa de homicídio foi conduzida pela 8ª DP (SIA). Em 5 de junho de 2008, Eduardo Queiroz saía do escritório da empresa de transporte União — pertencente ao grupo comandado por Constantino — quando um homem que estava na garupa de uma moto disparou cinco vezes contra o carro do empresário. Quatro tiros acertaram o veículo do ex-genro do fundador da Gol, mas Queiroz saiu ileso do episódio.

Dois meses antes de ser alvo do ataque, Queiroz — que na ocasião já não estava mais casado com a filha de Constantino — tinha dito em depoimento à polícia que sabia do planejamento para o assassinato do líder comunitário Márcio Leonardo de Sousa Brito. A audiência de ontem no Tribunal do Júri tratava justamente desse homicídio, do qual Nenê Cons-tantino é acusado de ser o mandante. O advogado Alberto Zacharias, que representa o dono da Gol neste caso, limitou-se a dizer que “estranhou” o mandado de prisão referente a um crime cometido em 2008. Um ano antes, a polícia diz ter evitado a morte de outro genro de Constantino, Basílio Torres Neto. Um grupo de homens foi preso na cidade de Araçatuba, no interior paulista, quando se preparava para assassinar Basílio. De acordo com a polícia, o dono da Gol também foi o mandante do crime.

Audiência

Além de Constantino, outras quatro pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público por suposto envolvimento na morte de Márcio, assassinado em 2001 na QE 24 da Região Administrativa — antiga garagem da Viação Pioneira e atual endereço da Viação Planeta, empresa de propriedade de Nenê. Este é o segundo caso de homicídio atribuído ao empresário.

Ao todo, oito testemunhas de acusação devem depor nos próximos dias. A delegada da Coordenação de Crimes Contra a Vida (Corvida) da Polícia Civil, Mabel Alves de Faria, chefe das investigações do crime à época, foi a primeira a falar. Ela passou mais de cinco horas prestando esclarecimentos às partes e confirmou que, de acordo com as investigações, Nenê Constantino foi o mandante do crime. As testemunhas de defesa têm audiência marcada somente para 1º março de 2011.

Em um primeiro momento, Mabel declarou que, durante as investigações, as testemunhas ouvidas por ela demonstravam muito medo em comentar o assunto por temer represálias do empresário, uma pessoa tida como influente e poderosa. “As pessoas que compareciam à DH (antiga Delegacia de Homicídios, hoje Corvida) pediam para que seus nomes não fossem divulgados por temer a exposição”, justificou.

Segundo a denúncia, a morte de Márcio teria como pano de fundo a disputa pela ocupação de um terreno. Um grupo de pessoas teria invadido a porção de terra pertencente ao empresário e a vítima seria o líder da associação de moradores estabelecida no local. Segundo Mabel, testemunhas ouvidas pela Corvida teriam dito que Constantino pretendia vender a propriedade, entretanto, os moradores resistiam à desocupação.

Os demais réus no processo são: o genro de Nênê Constantino, Victor Bethórico Forest, que teria corrompido testemunhas; o ex-funcionário do empresário, Vanderlei Batista Silva, que seria o encarregado pelo assassinato; João Alcides Miranda, apontado como um espião de Nênê no assentamento; e João Marques dos Santos, que seria o responsável por contratar o executor o crime.

Versão

Na fala de Mabel, baseada no depoimento de testemunhas, Constantino teria contactado Vanderlei, seu braço direito, para resolver o problema da saída dos invasores. Este, por sua vez, teria pedido a João Miranda para arranjar um atirador de aluguel. “Miranda passou o serviço a João Marques, pedindo a ele que contratasse Junior, o menor que tinha matado Tarcísio”, explicou. A delegada se referia ao caminhoneiro Tarcísio Ferreira, 42 anos, que foi assassinado, segundo polícia, a mando de Constantino, em 9 de fevereiro de 2001 na antiga garagem da Pioneira. Mesmo local onde, oito meses depois, Márcio morreria.

Ainda de acordo com a delegada, Marques teria descoberto que o adolescente havia morrido, vítima de um homicídio e, não satisfeito, indicou outro atirador, Manoel. “Foi Miranda quem chamou Márcio na porta de sua casa. Ele estava acompanhado de Manoel e foi ele quem passou a arma do crime para Manoel efetuar os disparos”, contou Mabel.

Depois de ser interrogada pelo promotor de Justiça Bernardo de Urbano Resende, Mabel foi sabatinada por advogados da defesa. Um deles perguntou à delegada se ela sabia que o empresário ajudava entidades filantrópicas, mas a resposta foi negativa. Em seguida, perguntou se Mabel já havia interrogado Nenê Constantino e recebeu novamente uma negação da delegada.

Momentos finais

Por volta das 19h10, a delegada Mabel concluiu o depoimento. Ela reafirmou que Nenê Cons-tantino é o mandante do crime. Além disso, a testemunha definiu o empresário como “uma pessoa que faz de tudo para obter o que quer a qualquer custo”. Das oito testemunhas de acusação chamadas para depor, apenas seis compareceram.

Do Correio Brasiliense
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